Quantas vezes você já deve ter ouvido que precisa ser flexível?
Mas, o que é ser flexível para você?
Significa tolerar tudo e se adaptar a tudo passando por cima de seus anseios para se adequar ao que é colocado pelo meio?
Ou é uma espécie de inteligência que lida com a realidade sem negações, que olha para aquilo que é e a partir daí desenvolve escolhas e estratégias?
E, de fato, para atingir os resultados que deseja na vida pessoal e profissional a flexibilidade é uma competência de peso! Você que já me conhece sabe o quanto aprecio uma metáfora para instigar as reflexões. Então vamos a uma!
Dizem que em 1995 houve o seguinte diálogo entre um navio da marinha americana e as autoridades costeiras do Canadá. Os americanos começaram educadamente:– Favor alterar seu curso 15 graus para o norte, para evitar colisão com nossa embarcação. Os canadenses responderam de pronto: – Recomendo mudar seu curso 15 graus para o sul. O americano ficou mordido: – Aqui é o capitão de um navio da marinha americana! Repito, mude seu curso. Mas o canadense insistiu: – Impossível. Mude seu curso atual. O negócio começou a ficar feio. O capitão americano berrou ao microfone: – Este é o porta-aviões USS Lincoln, o segundo maior da frota americana no Atlântico! Estamos acompanhados de três destroyers, três fragatas e numerosos navios de suporte. Eu exijo que vocês mudem imediatamente seu curso 15 graus para o norte, do contrário tomaremos contramedidas para garantir a segurança do navio. E o canadense respondeu: – Impossível, repito: aqui é um farol… Câmbio! |
Fonte: Rangel (2003, p. 139).
Qual a mensagem que essa breve passagem traz para você?
Muitas vezes tudo o que desejamos é que o outro modifique os comportamentos e as escolhas, que o outro se adapte aos nossos desejos, pensamentos e verdades para que nós possamos chegar aos nossos objetivos! É mais ou menos como fazer uma promessa para que o outro pague.
Flexibilidade
Flexibilidade “é ter muitas escolhas de pensamentos e comportamentos para alcançar um resultado”, explica O’Connor (2003 p. 323).
Em outras palavras, é a habilidade de ler o curso dos ventos e ajustar as velas da nossa embarcação. É manter em perspectiva o objetivo desejado e construir estratégias geradoras de possibilidades para atingir resultados desejados.
Assim, quando o tema é flexibilidade a essência é possibilidades e uma boa dose de ressignificação.
Sim, ressigfinicar significa olhar uma determinada experiência à luz de um ponto de vista diferente, é dar ao fato um significado diferente.
Em termos práticos, significa manter-se atento aos próprios pensamentos e se perguntar:
- Este ponto de vista favorece meus objetivos?
- Fortalece meus propósitos?
Se a resposta ou sensação for um sonoro “não” eis ai um convite irrecusável de se perguntar:
- De que maneira posso olhar para isso de modo a fortalecer meu aprendizado?
Note que a forma como significamos uma experiência promove estados internos positivos ou enfraquecidos de recursos.
Assim, se a forma de olhar para o fato ou evento não te oferecer o melhor ângulo da experiência, mude o ângulo. Mude o ponto de observação e você certamente descobrirá perspectivas interessantíssimas da mesma situação.
Neste momento que me vem à mente a profundidade da afirmação de Marcel Proust: “a verdadeira viagem do descobrimento não consiste em procurar novas paisagens mas em ver com novos olhos”.
Flexível é aquela pessoa que tem em mente o objetivo e trabalha no sentido de identificar caminhos para atingi-los.
Aliás, você já parou para pensar que existem situações que criamos a partir de nossas escolhas? Ou seja, que estão na nossa esfera de decisão?
Você escolheu a carreira a seguir, a roupa que está usando hoje. Mas existe também uma série de situações que estão completamente fora do alcance de suas escolhas.
De quem é o controle?
Então cadê o poder da escolha, se a maioria avassaladora das coisas estão absolutamente FORA DO NOSSO CONTROLE?
Flexibilidade é reconhecer que não temos o controle, mas que podemos sim escolher a direção!
Podemos escolher a resposta que desejamos dar, ou seja, entre um estímulo (evento) e a resposta (comportamento) existe uma escolha.
E, tendo em vista tal perspectiva, gosto muito de desafiar o modo como olho para as situações com um breve exercício de flexibilidade que quero agora compartilhar contigo:
Você já se deu conta que com raríssimas exceções todo problema pode ser ressignificado?
Pense por alguns instantes na palavra problema.
- Tem peso ou tem leveza?
- Tem movimento ou tem paralisia?
Arrisco afirmar que você respondeu peso e paralisia.
Então vamos lá! Pense por alguns instantes na palavra desafio.
- Tem peso ou tem leveza?
- Tem movimento ou tem paralisia?
Embora eu não tenha nenhuma clarividência, arrisco afirmar que você responde que tem leveza e movimento.
Muito bem! Agora, que tal identificar um problema que o tem afligido e transformá-lo em desafio? Como?
Te dou um exemplo: Imagine que o seu problema é medo de falar em público.
Pense no seu problema por alguns instantes. Agora que tal transformar esse problema de medo de falar em público em desafio de desenvolver a sua competência da oratória.
Como fica pra você?
Perceba que o problema traz sensações de peso e o desafio traz leveza, é algo que está à sua frente e gera momentos.
Muito bem, agora a estratégia de flexibilidade: abra a sua mão e para cada dedo encontre uma estratégia possível para te aproximar ao resultado.
- Identificar o diálogo interno disparador da sensação de insegurança e ansiedade;
- Fazer um curso de oratória;
- Elaborar o discurso com inicio meio e fim e ensaiar o texto diante do espelho, de uma planta ou do seu bichinho de estimação;
- Gravar a própria apresentação e avaliar os pontos de melhoria (gesto, postura, ritmo de voz);
- Ler livros de oratória, assistir a vídeos de palestrantes renomados levantar informação sobre a plateia e aprofundar seus conhecimentos sobre o tema que irá tratar.
Enfim, perceba que você já tem estratégias que servirão de norte para conduzi-lo rumo ao seu objetivo que é falar em público.
Note que algumas estratégias que foram levantadas podem não ser operacionalizadas e que outras podem ser conjugadas.
O importante é o exercício de treinar o cérebro em busca de possibilidades. Ao repetir esse exercício, muito em breve, transformará problemas em desafios e a busca por possibilidades será incorporada a sua memória procedimental.
Outro bom exercício de flexibilidade: quando se encontrar diante de uma situação pergunte-se:
- O que posso fazer a respeito?;
- E o que mais?;
- E o que mais?;
- E o que mais?.
Sempre que perguntamos “e o que mais?” estamos estimulando o cérebro a olhar para possibilidades que até então não seriam identificadas.
É um convite para “cavar mais fundo”. E, à medida que vamos “cavando mais fundo” vamos estimulando a criatividade e encontrando possibilidades que talvez jamais nos déssemos conta se não tivéssemos prosseguido com a investigação. Eis aí a chave da flexibilidade.
Referências:
O’COONOR, j. Manual de programação neurolinguística. Um guia prático para alcançar os resultados que você quer. Rio de janeiro: Qualitymark, 2003.
LOTZ, E. G. Gestão do projeto de vida. Maringá: Cesumar, 2017. (E- book).