22 de junho de 2020

Ok, já posso imaginar que você está pensando que esse tal de OKR utilizado pelo Google é feito para startups e empresas de tecnologia, que é arrojado demais para a advocacia. Acertei?

De fato, os OKRs são uma febre entre as startups e empresas do Vale do Silício. Spotify, Linkedin, Netflix, Google são só alguns exemplos. No Brasil também já virou febre entre as empresas de tecnologia. Mas essa metodologia de gestão de desempenho é tão fantástica que empresas de todos os portes e dos mais diversos segmentos também podem se beneficiar com ela.

Peço que me dê uma chance para te apresentá-la e, se você já conhece, acompanha a leitura! Conhecimento e informação nunca é demais, não é mesmo?

Como os OKRs chegaram até o Google?

Já trabalhavam com transparência, tinham ousadia e recompensavam o “bom fracasso”, só precisavam de um “princípio organizador” para o casamento perfeito. E foi isso que aconteceu quando John Doerr apresentou os OKRs (Objectives and Key Results) para Larry Page e Sergey Brin, fundadores do Google.

No livro “Avalie o que Importa”, John Doerr define os OKRs como “um protocolo colaborativo para definição de metas para empresas, equipes e indivíduos”. O autor, que também era um dos investidores do Google quando apresentou-lhes a ferramenta, ressalta que os OKRs não podem substituir o bom senso, a liderança forte ou a cultura criativa do local de trabalho, mas se bem utilizados, seus fundamentos podem operar como um verdadeiro “guia ao topo da montanha”.

Me chamo Luiza, sou advogada e atuo como mentora de planejamento estratégico para escritórios de advocacia aqui na ÉOS – Inovação na Advocacia. Confesso que quando conheci os OKRs meus olhos brilharam e eu disse para mim mesma que precisava levar isso para a advocacia! Dito e feito, aqui estou. Cada dia mais envolvida com o tema, aplicando os OKRs nos escritórios clientes e focada em transmitir esse conhecimento para vocês.

Recentemente, realizamos um webinar aqui na ÉOS, onde elaboramos uma enquete bem interessante. Nela, perguntávamos se os advogados presentes conheciam determinados temas, como dashboards, business intelligence, jurimetria, KPIs, robôs de automação, OKRs… Para a minha surpresa, menos de 50% responderam que conheciam os OKRs! Então pensei:

– Estou trabalhando pouco na divulgação desse grande framework de gestão! A advocacia precisa conhecer mais os OKRs!

Assim, divulgar e aplicar ainda mais essa metodologia nos escritórios de advocacia em todo o Brasil tornou-se o meu objetivo de 2020 e a ÉOS me apoia nessa causa!

O que são OKRs?

No artigo “OKRs na Advocacia: que diabos é isso?” explorei bastante os conceitos dos OKRs, e faço questão de repetir aqui novamente, pois quero ser bem didática para que você se anime a implementar aí no seu escritório.

Traduzindo para o português, OKRs significa objetivos e resultados-chave. Trata-se de uma ferramenta de gestão e orientação da execução estratégica da empresa. É um modelo de gestão contínua e ágil, com foco em resultados. Funciona como um meio para alinhar pessoas, medir performance, competências e aprimorar os processos.

O OBJETIVO é o que se deseja alcançar e deve ser escrito em termos qualitativos. É recomendável que seja aspiracional, um “sonho” a ser vivido. Os RESULTADOS-CHAVE são metas S.M.A.R.T (específica, mensurável, atingível, relevante e temporal), baseados em indicadores mensuráveis. Portanto, os resultados-chave devem ser quantitativos.

Eles surgiram na Intel, na década de 70, quando perceberam que seu modelo de gestão não conseguia acompanhar a dinâmica do mundo. Construíram um framework de objetivos e resultados-chave ágil, adaptado para acompanhar as mudanças constantes e a dinâmica do mundo. Utilizaram as bases da Gestão Orientada a Objetivos (Management by Objectives – MBO), de Peter Druker, e adaptaram.

Mas o que os OKRs têm de tão diferente dos outros métodos tradicionais de planejamento?

Eles seguem a mesma lógica das metas tradicionais, mas tem um estilo próprio de implementação e isso é que faz toda a diferença na prática.

Primeiro, o CEO ou sócios definem a estratégia do ano para a empresa/escritório, descrevendo um objetivo geral. Depois, cada departamento/área/setor desenvolve os seus OKRs que contribuirão para alcançar o objetivo maior e, na sequência, cada indivíduo vai instituir seus próprios OKRs individuais. Em outras palavras, todos caminham numa mesma direção e de forma integrada, trabalhando juntos para atingirem o grande objetivo.

O grande pulo do gato dos OKRs é que, diferente dos modelos tradicionais, toda a empresa tem conhecimento da estratégia e dos OKRs de todo mundo. O método tem a filosofia da transparência, do alinhamento de comunicação e expectativas. Além disso, eles são construídos em ciclos menores (preferencialmente trimestrais) e o acompanhamento dos resultados deve ser constante, transformando verdadeiramente a cultura da organização.

Por onde começar?

Você e seus sócios já pararam para pensar qual a razão de existir do seu escritório? Qual o propósito de vocês? Qual o legado que querem deixar no mundo?

Para nós, advogados, acostumados a sermos extremamente técnicos, esse papo de propósito pode ser muito abstrato. Mas acredite, meu caro, descobrir o seu propósito transformará o modo de enxergar o negócio, mudará o jeito de lidar com a equipe, de fazer a gestão do escritório e modificará você também como pessoa.

Definir um propósito nos ajuda a saber onde queremos chegar. Com isso em mente, fica muito mais fácil superar os obstáculos no caminho, pois não medirão esforços e suportarão tudo que vier pela frente para alcançar os objetivos.

Portanto, comece sempre pelas diretrizes estratégicas. Missão, visão e valores não são frases bonitas para serem colocadas na plaquinha. Elas precisam ser conhecidas por todos e, mais do que isso, ser vivenciadas na prática.

Com essa clareza, saber onde se quer chegar fica muito mais fácil. Os membros do conselho de sócios devem definir o OBJETIVO geral. Esse objetivo deve ser aspiracional e arrojado. Por exemplo:

[dt_quote type=”pullquote” layout=”right” font_size=”big” animation=”none” size=”1″]“Entregar soluções jurídicas criativas e inovadoras, com tecnologia, excelência e agilidade, que transformem os negócios dos clientes.”[/dt_quote]

Veja que aqui todos os setores e áreas do escritório conseguem criar objetivos próprios, que corroborem com o alcance desse grande objetivo. Por exemplo, a controladoria procurará aprimorar seus processos com uso da tecnologia e de fluxos bem definidos. O setor técnico-jurídico buscará realizar suas produções com mais qualidade e soluções jurídicas que fujam do trivial. O financeiro desenvolverá políticas organizadas de cobrança, o administrativo aprimorará a qualidade do atendimento e da experiência dos clientes, o marketing posicionará a marca do escritório como empresa parceira dos clientes, o RH contratará profissionais criativos e arrojados, a TI utilizará de ferramentas modernas do mercado para entregar soluções inovadoras e assim sucessivamente.

Agora chegou o momento de cada setor criar os seus RESULTADOS-CHAVE, que consigam mensurar se o seu objetivo está sendo alcançado.

Darei um exemplo de objetivo e resultados-chave do setor técnico-jurídico:

O: Aprimorar a qualidade das entregas.

KR1: Revisar 100% das peças antes de serem protocoladas ou enviadas para os clientes.
KR2: Instituir grupo de estudo que se reúna a cada 10 dias para discutir assuntos relevantes, atualizar a equipe dos novos entendimentos e desenvolver novas teses para o setor de combustível.
KR3: Adquirir 3 cursos de atualização por semestre com acesso para toda a equipe técnica.

Se todos trabalharem nos seus objetivos, medindo e acompanhando seus resultados, logo o objetivo geral é alcançado e o escritório vai alcançando patamares incríveis de desenvolvimento. Além disso, haverá engajamento e união em torno de um único objetivo. Isso alinha as pessoas e diminui os gaps entre as áreas.

Não é incrível?

A parte mais difícil vem agora, que é o processo de ACOMPANHAMENTO e GESTÃO DOS RESULTADOS. É preciso persistir nos objetivos e criar o hábito das reuniões. Não basta apresentar a ferramenta para a equipe, criar e depois esquecer. Para ser inserido na cultura do escritório, o acompanhamento dos OKRs deve fazer parte da rotina.

Como puderam ver, os OKRs são perfeitamente adequados para qualquer modelo de negócio, inclusive na advocacia. Escritórios de pequeno, médio e grande porte, dos mais diversos nichos e segmentos. Sabe por quê? Porque todo escritório de advocacia precisa de gestão, indicadores, acompanhamento do desempenho, agilidade dos processos, criação de novos produtos jurídicos e serviços, adequação às necessidades do consumidor, mudanças de comportamento… enfim! Assim como o Google, todo escritório precisa de um “princípio organizador” e os OKRs podem ser uma ferramenta surpreendente.

A crise é uma oportunidade grande para nos abrirmos para o “novo”. Que tal experimentar os OKRs?

REFERÊNCIAS
DOERR, John. Avalie o que importa: como o Google, Bono Vox e a Fundação Gates sacudiram o mundo com os OKRs/John Doerr; Traduzido por Bruno Menezes. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019.
RAMOS, Gustavo. Transparência e Engajamento: Como OKR ajuda a desenvolver? CoBlue – OKR Management. Disponível em: <https://coblue.com.br/blog/transparencia-engajamento-okr/> Acesso em: 21 Mai. 2020
Sobre a autora

Luiza é mentora de Planejamento Estratégico e Societário na Éos. É Advogada, Pós-graduada em Direito Corporativo pela Universidade Positivo/Paraná, Consultora especializada em Gestão de escritórios de advocacia e departamentos jurídico.

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